domingo, 27 de novembro de 2011

Comemdo o próprio fígado

Olá!

Encontrei este texto maravilhoso, muito explicativo sobre problemas que nos afetam. A surpresa está para o final quando os autores - Edgard Cantelli e Helena Guimarães comentam sobre o filme "Palhaço", de Selton Melo. Benjamim (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José) formam a fabulosa dupla de palhaços Pangaré e Puro Sangue. Benjamim é um palhaço sem documento algum nem comprovante de residência. Ele vive pelas estradas na companhia da divertida trupe do Circo Esperança. Mas Benjamim acha que perdeu a graça e parte em uma aventura atrás de um sonho.  O mais interessante do texto é que fala de um problema sobre as energias que "carregamos" e que podemos "carregar" conosco. Nós somos senhores (as) do nosso corpo, temos uma responsabilidade sobre ele. O Fígado é um dos orgãos mais afetado pelas nossas ações, uma atenção especial para este que como se diz por aí que "fulano quer comer meu fígado" - quando alguem está chateado com a gente. Quando não estamos satisfeitos conosco podemos dizer que estamos "comendo nosso próprio fígado"
Essa história de "comer o fígado " vem da mitologia Greco-Romana de Prometeu, Um dos titãs, filho de Jápeto, defensor da Humanidade e responsável por roubar o fogo de Zeus e dá-lo aos mortais. Zeus para puní-lo acorrentáo a uma rocha com uma enorme águia que come seu fígado, mas que no dia seguinte o orgão cresce e mais uma vez vem a águia e come-o. Isto ocorre poor toda a eternidade. Este mito é contado de diversas formas por diverso autores da antiguidade, entre os principáis estão os gregos Hesíodo e Ésquilo. Outras informações sobre esta mitologia leiam em http://pt.wikipedia.org/wiki/Prometeu_(mitologia) . Vamos então ao texto de Edgard Cantelli e Helena Guimarães retirado da página Terapias Chinesas.



Toda alteração, sintoma ou patologia do nosso organismo são entendidos na Medicina Chinesa como sendo uma manifestação de um Padrão. Um Padrão é uma alteração fisiológica que gera uma diminuição de alguma função orgânica, uma hiperatividade, uma diminuição das condições estruturais, dentre vários outros tipos. Desses Padrões, o mais comum é chamado de Depressão do Qi do Fígado (肝气郁 - Gān Qì Yù). Ele consiste numa incapacidade do sistema físico e energético do Fígado (肝 – Gān) em cumprir com eficácia e fluidez a sua principal função energética que é o direcionamento do fluxo de Energia (气 – Qì) e do Sangue (血 - Xuè). Tem-se então repercussões desse Padrão em toda a fisiologia: a digestão fica mais lenta, assim como o funcionamento intestinal, a circulação sanguínea fica prejudicada, aumentam-se as chances de dor de cabeça e tensão pré-menstrual e o principal é o reflexo na Mente (神 - Shén), com prejuízo das funções de criatividade, imaginação e sensação de felicidade.

O mais interessante é que a origem desse Padrão é psíquico-emocional, em praticamente todos os casos. É óbvio que uma alimentação que sobrecarrega as funções do Fígado, tendências congênitas, traumas infantis, também podem facilitar o surgimento deste quadro. Mas sempre há um componente emocional presente.
Toda alteração patológica que tem sua origem interna (内因 - Nèi Yīn) é decorrente da manutenção por longo período de um mesmo sentimento ou padrão psíquico. No caso do sistema físico e energético do Fígado, a emoção que encontramos nos tratados de Medicina Chinesa, como sendo a que principalmente altera sua fisiologia é a raiva (怒`- Nù). Mas é fundamental entendermos que os chineses antigos consideravam os cinco tipos principais de emoções (raiva, euforia, preocupação, tristeza e medo), como grandes categorias, possuindo enormes subtipos, desdobramentos e combinações.
Ao perguntarmos para um paciente se ele sente alguma raiva persistente, de modo geral, ele responderá que não. Mas poderá relatar que sente frustração, mágoa e ressentimento. Estes são considerados tipos de raiva, na Medicina Chinesa.
Destes subtipos o mais importante é a frustração. Alguns estudiosos da Medicina Chinesa, como Giovanni Maciocia e Bob Flaws, chegam a afirmar que todos nós temos algum grau de frustração persistente e, por isso, algum grau de Depressão do Qi do Fígado. Todos nós não temos todos os nossos desejos e vontades atendidas da forma e na velocidade que gostaríamos.
Assim, temos um grande problema na prática clínica da Medicina Chinesa: tratar esse Padrão é relativamente fácil, melhorando suas manifestações e seus sintomas. Mas, como a frustração persiste, o Padrão rapidamente retorna a se formar.
Esse é um dos motivos que fizeram com que todas as tradições espirituais orientais, dessem tanto foco na diminuição dos desejos egóicos, como uma condição fundamental para que tivéssemos chance de vivermos mais saudáveis e felizes.
No Taoismo, tradição que deu origem à Medicina Chinesa, essa condição é um dos pilares filosóficos que norteiam a nossa vida em direção à simplicidade. Os outros dois são a humildade e a afetividade. E no conceito de simplicidade taoista está inserida a aceitação. Wu Jyh Cherng, fundador da Sociedade Taoista do Brasil, e meu mestre no Taoismo, dizia que a aceitação das nossas condições, de quem somos e do nosso momento de vida é o segundo passo na nossa transformação de vida para um caminho mais feliz. O primeiro, dizia, é a conscientização.

Quem quiser ver um lindo retrato desse processo de conscientização, aceitação e transformação através da simplicidade, e também da humildade e da afetividade, veja o filme “O Palhaço”, escrito, dirigido e interpretado pelo Selton Mello. Não deixe de ver no cinema pois, além de um roteiro maravilhoso, é um filme lindo, com uma trilha sonora impecável.

Um abraço e até!